O Morro da Providência, primeira favela do Brasil, recebeu, na segunda-feira, dia 29/09, a primeira edição do projeto “EXTRA Favelas”, uma série de encontros que vão acontecer em cinco das principais comunidades do Rio de Janeiro para debate pautas fundamentais para a população de cada território. A iniciativa é uma parceria do jornal Extra com o apoio da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
O primeiro encontro, que teve como tema “Urbanismo e Moradia”, reuniu os vereadores Leonel de Esquerda (PT), presidente da Comissão Municipal de Favelas; Diego Faro (PL), presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara; Gustavo Freue, secretário municipal de Ações Comunitárias; e Fernando Pereira, nascido e criado no Morro da Providência e fundador do Instituto Arquitetos de Favela. O encontro foi gratuito e contou com a presença de moradores da Providência e região. A mediação foi do jornalista Marcos Furtado, do Jornal Extra.
O debate jogou luz sobre as prioridades para o desenvolvimento das comunidades, discutindo ações de sustentabilidade, regulação fundiária, acessibilidade e garantia de direitos e serviços para os moradores.
— A solução do Rio de Janeiro é a favela. É preciso pensar tudo de forma holística, dar oportunidade para resolver o problema da cidade sob a perspectiva dos favelados. Uma favela com área verde, jardim vertical, horta comunitária nas lajes. Isso gera renda, ameniza os impactos climáticos e ocupa a mente das pessoas, que poderiam estar sendo intoxicadas pela lógica do tráfico. Urbanismo também é uma forma de combater a violência — destacou Leonel de Esquerda.
Pensar uma favela com mais áreas verdes pode ajudar na solução de diversos desafios para a população, aponta o vereador Diego Faro. Para ele, é preciso criar a cultura de que o meio ambiente é fundamental também dentro das comunidades, que vivem com “ilhas de calor” durante todo o ano.
— A ausência de verde traz problemas para a saúde, porque não conseguimos diminuir a temperatura na região, traz problemas respiratórios.
Temos muitos problemas com enchentes. Se criarmos espaços arborizados, jardins largos, pisos com drenagens para captação de água da chuva, isso fortalece o piso, as árvores crescem e trazem frescor, dando à comunidade um círculo virtuoso — defendeu.
Outro desafio fundamental para dar à favela melhores condições de vida é o da regulação fundiária. A garantia da propriedade de uma residência guarda entraves técnicos e sociais, como falta de recursos, de documentação pessoal, da comprovação de propriedade e do envolvimento da comunidade. De acordo com Gustavo Freue, em 2022 a prefeitura do Rio investiu R$ 50 milhões no trabalho de cadastramento, coleta e envio de documentação para acelerar os processos de regulação.
— Fizemos um cadastramento digital, recolhemos informações e fizemos o georreferenciamento de cada morador. Mas isso é um trabalho permanente.
À medida que a pauta está evoluindo, as pessoas estão vendo o maior desenvolvimento das comunidades, a dignidade que ela dá aos moradores. E oferece a chance de fazer financiamentos, de deixar a casa de herança para familiares. A pessoa cria um patrimônio formal — pontuou o secretário.
O acesso às favelas é uma das principais queixas da população, especialmente entre os idosos. Subir ou descer o morro, carregar materiais, circular entre os becos e sair de casa em situações de emergência são dificuldades corriqueiras para quem vive nas comunidades. Por causa da falta de acessibilidade, é comum que moradores sejam carregados em cadeiras até a ambulância ou à rua e que mercadorias ou itens de grande porte subam içados por corda. Fernando Pereira defende que é preciso olhar para a favela e para as soluções criadas pela população para sanar os problemas:
— A favela é um organismo vivo, não para de crescer. Temos que trabalhar no coletivo. Quem pensa e trabalha com favelas precisa vivenciar suas necessidades. Buscar as soluções que as pessoas estão executando e potencializá-las. E estudar favela e cidade em conjunto. Não adianta arrumar a rua, o asfalto, a malha urbana e não arrumar a casa das pessoas. Assim, vamos impactar positivamente as famílias — argumenta ele.
Ouvir a população do Morro da Providência foi um dos objetivos do evento. A Câmara dos Vereadores levou para o encontro servidores que ficaram à disposição da população para receber queixas ou ajudar a resolver dúvidas. O presidente da Casa, vereador Carlo Caiado (PSD), prestigiou o evento e destacou a importância da aproximação com a comunidade:
— Queremos aumentar a comunicação com a população, criar um enraizamento, uma cultura que o nosso Plano Diretor tem como planejamento. Nada melhor do que escutar as pessoas que vivem aqui. Nossas políticas públicas estão escritas, temos que tirá-las do papel e transformá-las em políticas permanentes — afirmou.