Policial civil se recusou, oficialmente, a comparecer à UPA de Costa Barros: ‘em razão da instabilidade no quesito segurança’

Tempo de leitura: 7 min


No dia 15 de abril de 2024, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Costa Barros enviou e-mail ao Instituto de Identificação Félix Pacheco, da Polícia Civil, pedindo a “presença de servidor de perícia papiloscópica” para identificação de um paciente. O homem fora levado à unidade por ambulância do Samu, inconsciente, entubado e sem identificação.

A resposta, também enviada por e-mail, duas horas e meia depois, foi categórica:

“Em resposta ao ofício número 219, de 15/04/2024, solicitamos, em razão da instabilidade no quesito segurança da localidade, ocasionada por narcotraficantes, fato de notório saber, onde encontra-se a UPA Costa Barros, a transferência do paciente para outra unidade, fora da área de risco”, disse a mensagem do perito papiloscopista que se identificou como chefe do setor.

Para quem não está ligando o nome à unidade de saúde, a UPA de Costa Barros é a mesma que, nesta terça-feira (30), foi invadida por bandidos armados que procuravam integrantes da quadrilha rival, e aterrorizaram quem estava de plantão. Os traficantes chegaram a espancar dois pacientes, até perceberem que eles não eram as pessoas que procuravam. A unidade foi interditada e 11 pacientes internados foram transferidos para o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari. Sem previsão de reabertura, populares fizeram protesto nesta quarta-feira (01), pela reabertura da unidade de saúde.

A PM disse que não foi comunicada sobre entrada de feridos por arma de fogo, tampouco sobre a invasão de criminosos na unidade. A corporação alegou que tomou conhecimento dos fatos somente por meio da imprensa e, em seguida, reforçou o policiamento na região. A Polícia Civil, por sua vez, disse que a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) foi acionada para uma ocorrência em que uma ambulância foi tomada por criminosos que colocaram nela um bandido baleado para ser levado à unidade de saúde.

Já a respeito da invasão, o delegado Jorge de Albuquerque Maranhão, titular da 39ª DP (Pavuna), disse que um representante da Secretaria municipal de Saúde comunicou o fato, mas que nenhum funcionário que presenciou o caso compareceu à delegacia.

O que diz a Polícia Civil

Questionada, a corporação disse, por meio de nota, que a resposta foi “uma atitude isolada do funcionário responsável” e que será instaurada sindicância para apurar a conduta do servidor. Eis a íntegra da nota:

“A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro informa que a resposta encaminhada pela área técnica ao ofício da UPA de Costa Barros, em 15/04/2024, tratando da impossibilidade de deslocamento de servidor para identificação de paciente, tratou-se de uma atitude isolada do funcionário responsável.

É importante destacar que tal manifestação não foi comunicada ou submetida a qualquer superior hierárquico, e não reflete a orientação institucional da Polícia Civil.

Diante do ocorrido, será instaurada sindicância interna para apurar a conduta do servidor e adotar as medidas administrativas cabíveis.

A Polícia Civil reafirma seu compromisso de atuação em todas as regiões do estado, inclusive em áreas de maior complexidade, sempre em cooperação com outras forças de segurança, garantindo o atendimento às demandas da sociedade e preservando a vida de seus servidores e da população”.

Caso na UPA de Costa Barros aconteceu duas semanas depois da invasão do Pedro II

A ofensiva criminosa na UPA de Costa Barros aconteceu pouco mais de duas semanas de um caso semelhante no Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, na Zona Oeste. No último dia 18, um grupo rendeu os seguranças na garagem e se dirigiu ao centro cirúrgico em busca do paciente Lucas Fernandes de Souza, 31 anos, que estava internado após sofrer um atentado. Um dos criminosos usava colete à prova de balas da Draco. Os bandidos permaneceram cerca de 20 minutos na unidade e não encontraram o Lucas, que já havia sido liberado e estava na enfermaria.

Nesta quarta-feira (01º), um homem foi assassinado a tiros no estacionamento da Maternidade Carmela Dutra, no Méier. A unidade também ficou fechada na parte da manhã.

Secretário de Segurança chamou Soranz de ‘mentiroso’

Antes mesmo da invasão da UPA de Costa Barros, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, e o secretário estadual de Segurança Pública, Victor Santos, bateram boca, por meio de entrevistas, sobre a recorrência com a qual unidades de saúde têm sido afetadas por situações de violência.

“Só esse ano, 516 vezes, uma unidade de saúde precisou ser fechada por um conflito armado ou por uma questão de segurança. A situação vem aumentando numa velocidade muito grande na cidade do Rio”, observou Soranz, na ocasião da invasão do Pedro II.

Em resposta, Santos acusou Soranz de mentir.

“O secretário Soranz está mentindo. Ele é mentiroso. Isso não condiz com a verdade. Não existe esse número de ocorrências. Se apurarmos, há registro de cerca de 20% dessas situações. O secretário [Soranz] tem meu telefone, assim como o de todos os outros secretários, e não fez nenhuma ligação para pedir esse tipo de apoio. Por isso, consideramos essa declaração uma irresponsabilidade, porque esse tipo de informação gera insegurança na população”, disse Santos.

Soranz rebateu a acusação de estar mentindo e a informação de que não pedira apoio. E encaminhou uma lista atualizada — que não tem 516, mas 698 incidentes que levaram ao fechamento das unidades de saúde por questões de segurança. Na relação, tem os endereços e datas, com a classificação dos riscos aos profissionais e pacientes. Além da Secretaria de Segurança, o material foi enviado também à Secretaria de Polícia Civil, à Secretaria Nacional de Segurança e ao Ministério Público..



Com informações da fonte
https://temporealrj.com/policial-civil-se-recusou-oficialmente-a-comparecer-a-upa-de-costa-barros-em-razao-da-instabilidade-no-quesito-seguranca/

Compartilhe este artigo
Nenhum comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *