Rio se transformou no ‘home office’ do tráfico, diz secretário | Rio de Janeiro

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Presos em operação na Zona Sudoeste foram levados para Cidade da Polícia, na Zona Norte - Reginaldo Pimenta/Agência O Dia



Presos em operação na Zona Sudoeste foram levados para Cidade da Polícia, na Zona NorteReginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio – A operação das polícias Civil e Militar, para conter o avanço do Comando Vermelho pela Zona Sudoeste, nesta segunda-feira (29), teve 17 prisões. Dentre elas está a de uma mulher em Belém, no Pará, apontada como elo do Comando Vermelho entre os estados. Dados de inteligência mostram que criminosos de outras regiões do Brasil se mudam para o Rio de Janeiro não mais para apenas se esconder, mas sim para aprender mais sobre as expansões das facções criminosas, fazendo do estado um “home office”.

“A gente vê criminosos de outros estados vindo pra cá para aprender o ‘know how’ [expressão em inglês que significa o conhecimento técnico e prático sobre um assunto], principalmente essa cultura de expansão territorial e levar o terror para os outros estados. É assim que eles vêm pra cá, se estabelecem aqui. As comunidades viraram um verdadeiro ‘home office’ da criminalidade e o Comando Vermelho expandindo o seu território também para outros estados”, afirmou o secretário de Estado de Segurança Pública, delegado Victor Santos, durante coletiva de imprensa.

A operação contou com o apoio da Polícia Civil do Estado do Pará, reforçando o caráter interestadual do combate à expansão do Comando Vermelho. Uma das prisões realizadas é de Juliana Santos, ocorrida em Belém. De acordo com as investigações, ela é o elo da facção entre os estados.

“Existem muitos faccionados do Pará aqui no Rio de Janeiro. E hoje não é mais apenas aquele que é foragido da justiça e veio aqui para se esconder. Nós temos diversos faccionados do Comando Vermelho que não têm mandado de prisão, por exemplo. Às vezes isso é tão recorrente e são tantas pessoas que às vezes a gente sequer conhece. Eles, principalmente os que não têm mandado de prisão, ficam no trânsito Rio de Janeiro x Pará. Vai lá, articula, muitas vezes homicídios de agente públicos, extorsões a comerciantes, leva arma, droga… E eles ficam nessa interlocução Rio x Pará com muita frequência”, disse o delegado Gustavo Fossati, da Polícia Civil do Pará.

“A gente está monitorando todo esse intercâmbio entre o Comando Vermelho do Pará e o Comando Vermelho do Rio de Janeiro, que é muito forte. Eu diria que o Comando Vermelho do Pará é uma filial do Rio de Janeiro, porque a cúpula toda do Comando Vermelho está aqui. Eles recrutam faccionados muitas vezes jovens, recém integrados à organização criminosa para atuar aqui no Rio de Janeiro”, complementou Fossati

De acordo com o delegado, desde novembro de 2021, cerca de 24 paraenses foram mortos em confronto com as polícias do Rio de Janeiro. “A gente monitora, mas cada vez aparece mais gente nova. É impressionante, é um trabalho árduo e difícil que não tem como funcionar e não tem como acontecer se não houver essa integração entre as polícias e instituições estaduais e federais”, afirmou Fossati.

Operação combate o avanço do Comando Vermelho

As equipes das Polícias Civil e Militar cumpriram mandados de prisão e de busca e apreensão na Gardênia Azul e Cidade de Deus, ambas na Zona Sudoeste. Até o momento, 17 pessoas foram presas e um fuzil, seis pistolas e drogas apreendidos. A operação aconteceu em conjunto com o Ministério Público do Rio (MPRJ).

Investigações da Polícia Civil e do MPRJ revelaram que a facção possui uma estrutura e núcleos armados na região. Segundo o apurado, a Gardênia e a Cidade de Deus possuem um papel fundamental na logística de expansão do CV na área. Para isso, os criminosos usam a violência armada para expulsar moradores e intimidar a população local. Já contra as forças policiais, utilizam drones para monitorar as incursões.

Os mandados foram deferidos após provas colhidas em inquérito conduzido pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), 32ª DP (Taquara) e 41ª DP (Tanque), em atuação conjunta com Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ.

Estrutura do crime

Ao todo, foram denunciadas 22 pessoas pelo Gaeco à Justiça do Rio pelo crime de associação para o tráfico. Segundo o Gaeco, o projeto expansionista do Comando Vermelho é articulado por lideranças do Complexo da Penha – como Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca e Urso – em um movimento que tem provocado dezenas de mortes anuais.

Durante as investigações, os agentes identificaram diversos grupos de conversas por celular integrados por traficantes da Gardênia Azul. A análise dos diálogos, fotografias e vídeos trocados nestes grupos revelou a dinâmica de atuação dos denunciados. Com base nesse material e no aprofundamento das investigações, a denúncia do MPRJ conseguiu individualizar a conduta de cada um, dividindo-os em três níveis hierárquicos dentro da associação: gerente do tráfico local, soldados do tráfico e responsáveis pelo monitoramento.

De acordo com a denúncia, o gerente é Francisco Glauber Costa de Oliveira, conhecido como GL, apontado como uma das principais lideranças da facção na região de Jacarepaguá, também na Zona Sudoeste. Apesar de estar preso desde março de 2023, as investigações comprovaram sua participação ativa em grupos de conversa, nos quais emitia diversas ordens e orientações sobre a venda de drogas.

GL é um dos réus no processo sobre a execução de três médicos, em um quiosque na Barra da Tijuca, em outubro de 2023. Os criminosos teriam confundido uma das vítimas com o então chefe da milícia de Rio das Pedras, Taillon de Alcântara Pereira Barbosa. Além disso, GL também é acusado de envolvimento na morte do ex-policial militar Anderson Gonçalves de Oliveira, o Andinho, em fevereiro de 2023.

O Gaeco também identificou 14 soldados do tráfico, entre eles três adolescentes. Os demais denunciados, segundo a denúncia do Ministério Público, atuavam na função de monitoramento.



Com informações da fonte
https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2025/09/7137161-rio-se-transformou-no-home-office-do-trafico-diz-secretario.html

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