Foi na necessidade de se vestir que Pedro Fróes encontrou sua identidade. As roupas novas só chegavam no aniversário ou no Natal, e ele lembra de ver os colegas de escola desfilando peças da Nike ou da Adidas que estavam fora de alcance.
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— Eu não tinha dinheiro pra comprar essas roupas, achava um absurdo o preço. Aí comecei a frequentar bazares e brechós, porque queria montar meu estilo — conta o jovem de 19 anos.
Cria do Rocha, Pedro cresceu cercado por referências de Benfica, Maria da Graça, Quintino e Olaria. A moda sustentável já estava no sangue: sua avó mantinha um brechó perto da Vila Olímpica da Mangueira, em um ponto que antes fora uma loja de salgados. Foi ali que nasceu, em 2024, o primeiro vídeo do influenciador para divulgar o espaço da família.
O resultado surpreendeu: o vídeo viralizou e lotou a loja por semanas.
— Muita gente chegou falando: “Vi no TikTok”. A loja da minha avó ficou cheia por um mês, graças ao vídeo. Fiz de brincadeira, mas funcionou — lembra.
A experiência animou Pedro a continuar. Pouco tempo depois, ele produziu um vídeo mostrando uma rota por quatro brechós em um só dia. De novo, viralizou. Foi a confirmação de que o conteúdo tinha espaço.
Ator, dublador profissional e jovem aprendiz em um banco, Pedro passou a equilibrar rotina de trabalho e estudos com a criação de vídeos sobre moda acessível. O foco: mostrar que é possível se vestir bem gastando pouco, a partir da moda circular.
— Eu sempre gostei de procurar uma peça diferente, achar uma calça, um casaco, até tênis. Muitas vezes você gasta R$ 20 em três peças. É uma sensação muito boa construir estilo sem precisar se endividar ou entrar no fast fashion — afirma.
Achados que viraram relíquia
Nessa trajetória, ele já encontrou de tudo. Entre os tesouros, uma camisa polo oficial do Paris Saint-Germain, clube de futebol da França.
— Pesquisei e vi que só tinha na Amazon francesa. Provavelmente alguém comprou em Paris e depois doou. Paguei dez reais por ela em um bazar de igreja em Vila Isabel.
Outro garimpo memorável foi um blazer da Burberry, marca de luxo britânica com peças que chegam a custar milhares de reais.
Mas nem sempre o destaque foi roupa. Em um brechó de um amigo no bairro, Pedro encontrou uma caneca de louça do primeiro Festival de Chope da Mangueira, realizado em 1981.
— É uma lembrança que guardo até hoje, porque faz parte da história da comunidade — conta.
Representatividade periférica
Se nos bairros da Zona Sul os olhares costumam ser discretos, no subúrbio a recepção é calorosa.
— Quando fui na feira de brechós de Madureira, todo mundo me parava pra dizer que acompanhava meu conteúdo. Nos lugares suburbanos, sinto que a galera se reconhece no que eu faço — afirma.
Essa identificação é fundamental para Pedro, que busca sempre falar também com o público periférico:
— Para mim, a moda tá na rua, tá no meu bairro. Se meu conteúdo não chegasse nessas pessoas, eu saberia que tinha algo errado. Eu estaria comunicando de forma equivocada.
Segundo Pedro, o tema atrai gente de todas as idades, de consumidores a donos de brechós. Mas há uma parcela específica que vibra com o conteúdo: os jovens.
— Eles se sentem abraçados porque eu também sou novo. Mostro que dá pra achar roupa de marca sem gastar muito e sem cair nesse consumo exagerado — explica.
Dicas de bazares e brechós
Além de mostrar suas descobertas, Pedro também indica lugares que conhece e frequenta:
Instituto Conselheiro Macedo Soares – Rua Aquidabã, 540, Lins.
De segunda a sexta, das 9h às 16h. A renda do bazar ajuda 80 meninas do Complexo do Lins com cestas básicas e aulas no contraturno escolar.
Projeto Romanos – Rua Baleares, 51, Cavalcanti.
Quartas e quintas, das 10h às 16h. Troca 1 litro de leite por roupas, aceita doação de óleo usado, apoia causa animal e distribui 250 quentinhas por semana na comunidade da Bandeira 2. Também oferece aulas de jiu-jítsu para crianças da região.
Bazar do Bem – Rua Oldegard Sapucaia, 15, Méier.
Segunda, terça, quarta e sexta, das 10h às 12h30 e das 13h30 às 16h30; às quintas abre às 10h30. A renda financia projetos da União Espírita Suburbana e mantém o Asilo Legião do Bem.
Bazar Lar Franciscano – Rua Miguel Ângelo, 720, Cachambi (próximo ao Jacarezinho).
Quintas e sábados, das 9h às 12h. A renda é revertida para a obra do Lar Franciscano, que atende idosos.
Com informações da fonte
https://extra.globo.com/blogs/corre-de-cria/post/2025/09/moda-acessivel-garimpo-de-roupas-em-brechos-vira-conteudo-nas-redes-sociais.ghtml
Moda acessível: garimpo de roupas em brechós vira conteúdo nas redes sociais

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