Com Edmilson Marques de Oliveira, o Cria, chefe local da facção Terceiro Comando Puro (TCP) em favelas do Complexo da Maré, a regra era clara: obedecer ou sofrer as consequências, relatam moradores. Há anos, ele era visto no conjunto de comunidades da Zona Norte do Rio como um traficante que espalhava pânico devido à sua personalidade cruel. Ele foi morto nesta sexta-feira durante uma operação da Polícia Civil fluminense.
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Uma das histórias mais comentadas entre moradores envolve um homem que teria derrotado Cria em um jogo de cartas. Após uma discussão entre os dois, o traficante determinou que ele permanecesse em casa, sob uma espécie de “prisão domiciliar” imposta pelo crime. Dias depois, ao ser visto na rua, a ordem de Cria foi cumprida sem clemência: o homem foi executado. “Ele gostava de ser temido”, disse um morador. “Se você olhasse para ele, e ele não gostasse, mandava matar”, afirmou outro.
Cria era conhecido por sua imprevisibilidade. Caminhando pelas ruas da Maré, ele obrigava moradores a cumprirem “certos favores”. Comerciantes relatam, por exemplo, que eram pressionados a prestar serviços, contra a vontade, ao tráfico. Na lista de exigências de Cria, estavam o transporte de mercadorias e a vigilância de ruas, sob ameaça de retaliação. Já entre as punições impostas pelo criminoso, muitos contam que Cria mandava raspar a cabeça, sobretudo, das mulheres.
A frase que se tornaria marca registrada do traficante, “comigo é matar ou morrer”, refletia o clima de terror que se espalhava rapidamente pela comunidade, contam os moradores.
De acordo com os relatos, ele obrigava famílias a se mudarem ou a participarem de atividades do tráfico para provar lealdade. Cria costumava humilhar publicamente quem desrespeitasse regras ou negasse ajuda a vítimas de agressão dentro da comunidade para reforçar sua imagem de “sanguinário”.
Quem mora na região relata ainda que o traficante ordenava execuções em locais visíveis, muitas vezes em frente a ruas movimentadas, para reforçar seu controle e intimidar a população.
— Cria eliminava qualquer desobediência com violência extrema e morte. Pessoas que sofriam seu castigo eram obrigadas a ficar em casa, não podiam sequer olhar pela janela, sob risco de execução imediata — conta um ex-morador da Maré. O medo, dizem os moradores, era uma ferramenta que Cria usava para consolidar seu poder.
Em entrevista coletiva nesta sexta-feira, o secretário estadual de Polícia Civil do Rio, Felipe Curi, chamou o traficante de “sanguinário, cruel e arisco”. Ele tinha 222 anotações criminais e três mandados de prisão expedidos pela Justiça.
— Ele era um narco terrorista sanguinário, responsável por dezenas de homicídios no Complexo da Maré. Ele era perigoso e muito desconfiado. Se ele desconfiasse da pessoa, ele mesmo matava — disse Curi em entrevista coletiva. — Era o homem da guerra, que planejava as invasões e fornecia armamentos — completou.
O secretário afirmou que Cria era monitorado pela polícia há dois meses. O criminoso, diz Curi, era um dos “donos do Complexo da Maré no que tange ao TCP”. E dava apoio logístico à guerra expansionista da facção travada em comunidades como o Morro dos Macacos, em Vila Isabel, e o Morro do Fubá, no Campinho.