Após o assassinato de Charlie Kirk, criadores de conteúdo político não escondem preocupação com segurança

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Pessoas participam de memorial ao influenciador conservador Charlie Kirk em Phoenix — Foto: Eric Thayer/Getty Images/AFP


Há duas décadas, o emprego de “criador de conteúdo” não existia. Hoje, uma economia vibrante fortalece personalidades de redes sociais em programas no YouTube e em publicações para legiões de fãs no Instagram ou no X. Charlie Kirk era um deles, um ativista conservador e conselheiro de Trump que, após sete anos comandando uma organização sem fins lucrativos, começou a atuar no mesma mesma “podosfera” que pessoas como Ben Shapiro, à direita, e os irmãos Meiselas, à esquerda.

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O assassinato de Kirk, na quarta-feira passada, criou um momento extremamente dramático para este ecossistema.

Nos últimos dias, criadores de todos os lados do espectro político se depararam com um novo nível de medo. Muitos estudam reforçar suas seguranças, se é que já não o fizeram. Outros pensam em como recalibrar suas interações com o público, ou se devem continuar a criar conteúdo em espaços abertos.

— Meu chefe de segurança ligou quando isso aconteceu — disse Glenn Beck, do programa The Blaze, em entrevista à apresentadora Megyn Kelly em seu canal no YouTube na quarta-feira, afirmando ter dito a Kirk para que reforçasse seu nível de proteção. — Muitas pessoas em nossa posição não levam a segurança a sério.

As redes sociais na Era Trump são definidas por um debate contínuo entre celebridades digitais, seus fãs e seus detratores. Embora muitas dessas celebridades tenham recebido ameaças de violência, e tenham escolhido ignorá-las, isso não parece mais ser uma opinião.

— Trabalhei com representantes de alto escalão da midia conservadora por uma década e meia, e o número de ameaças graves de morte que eles recebem chocaria as pessoas — disse Alyssa Cordova, ex-vice-presidente do The Daily Wire, uma empresa de conteúdo que tem Shapiro entre seus co-fundadores.

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Steve Bannon, ex-estrategista-chefe e apresentador do podcast “WarRoom”, disse que Charlie Kirk “recebia ameaças o tempo todo”, e que, mesmo assim, ele estava comprometido com o contato direto, uma “coisa populista” que as pessoas esperam de seus heróis políticos.

— Você precisa tocar a audiência — afirmou. — Precisa tirar a mensagem da energia das multidões.

Os eventos políticos se tornaram um pilar do novo estrelato midiático, e a preocupação que se seguiu ao assassinato de Kirk pode ter um impacto direto sobre os modos de vidas dos criadores. Para os integrantes do primeiro escalão, as turnês estão a todo vapor, abrindo novas fontes de rendimentos e reforçando a relação casual e direta com os fãs.

Mas neste novo mundo, os criadores podem pensar duas vezes antes de serem tão acessíveis.

— Isso mudará a maneira como as pessoas interagem com o público — completou Bannon.

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Indo além, especialistas acreditam que os locais dos eventos e as seguradoras serão mais estritas em relação aos eventos políticos, e podem recusá-los daqui para frente. Na quinta-feira, Glen Kucera, que fornece serviços de segurança para a empresa Allied Universal, disse que mais de 30 universidades o procuraram para discutir medidas de proteção em seus campi.

À esquerda, muitos temem ataques em retaliação à morte de Kirk, observando discursos sobre uma “guerra civil” pipocarem nas redes sociais.

— As reverberações de pessoas buscando vingança depois desse ataque violento e abominável serão preocupantes — disse Hasan Piker, em uma transmissão na quarta-feira.

Mesmo assim, poucos criadores ou locais de eventos se mostraram dispostos a discutir seus planos para reforçar esquemas de segurança com a reportagem, preocupados que detalhá-los possa colocá-los em risco — na entrevista com Megyn Kelly, Glenn Beck afirmou que “não deveríamos falar sobre isso no ar”.

Caleb Gilbert, presidente do White Glove Protection Group, uma empresa que trabalha com clientes de alto risco, como presidentes de empresas, disse que o ataque foi um “chamado de alerta” para a indústria. Ele disser que, na quarta-feira, dormiu apenas duas horas.

— Todas as pessoas que protegemos estão agora reavaliando se estão ou não seguras — afirmou.

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O assassinato do CEO da UnitedHealthcare, Brian Thompson, no ano passado, levou a um movimento parecido entre executivos, dizem especialistas de segurança.

Dean Withers, um progressista que tem 4,4 milhões de seguidores no TikTok, disse na sexta-feira à noite que, pela primeira vez, estava conversando com um consultor de segurança e fazendo algumas perguntas, como “se é realmente inteligente aparecer em universidades”, ou se “é uma boa ideia fazer eventos públicos”.

— E se algo parecido acontecesse comigo, vindo de uma pessoa na direita que discorda de mim — afirmou. — Acho que jamais considerei essa possibilidade.

Withers já apareceu como o “jovem woke” em debates contra trumpistas em vídeos produzidos pela empresa Jubilee Media. Estava agendado para debater com Kirk pela segunda vez na semana que vem, revelou. Também planejava realizar um evento na Universidade do Estado do Colorado no dia 18 de setembro, quando Kirk também estaria no local.

— Me sinto aflito. Todos os criadores com quem conversei estão assustados — disse.

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Nos últimos dias, Withers também enfrentou críticas vindas de sua própria base de apoiadores, incluindo pessoas que atacaram Kirk ou celebraram sua morte, por ter chorado ao anunciar o ataque.

— Muitas dessas reações me surpreenderam — declarou. — Ver alguém com quem interagi pessoalmente, na vida real, se tornar um corpo sem vida com sangue jorrando do pescoço teve impactos psicológicos sérios para mim.

Lix Plank, outra criadora progressista, chorou durante uma entrevista na qual falou sobre o humor e a indiferença que viu nas redes sociais ligadas à morte de Kirk.

— A forma como algumas pessoas na esquerda estão reagindo a isso, sem qualquer choque ou horror, honestamente, é uma das coisas que mais me horroriza neste caso — afirmou.

Infográfico mostra de onde suspeito atirou em Charlie Kirk

Infográfico mostra de onde suspeito atirou em Charlie Kirk

Apesar de suas discordâncias — Plank chamou a retórica de Kirk de “prejudicial” e “violenta” —, ela afirmou que o assassinato a deixou “angustiada” e “esgotada”.

— Foi como se um assassinato tivesse acontecido em meu local de trabalho — disse. — É alguém com quem trabalho.

Plank, apresentadora do podcast “Boy Problems”, é conhecida por comparecer a eventos da direita, como comícios trupistas ou a Conferência de Ação Política Conservadora (Cpac), e por suas entrevistas com ar provocador nas ruas. Ela conversou com Kirk várias vezes, e chegou a ser convidada para a conferência de líderes da Turning Point USA (a organização de Kirk), mas depois disse ter sido expulsa.

Na entrevista, ela expressou dúvidas sobre seu futuro.

— Será que eu quero esse tipo de trabalho?

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O questionamento também surgiu entre outros criadores. Allie Beth Stuckey, podcaster conservadora que era próxima a Kirk, pensou em cancelar um comício em um jantar de arrecadação de fundos contra o aborto no estado de Nevada, mas decidiu ir adiante depois que um ex-colega de escola ofereceu seus serviços de segurança.

Em sua conta no X, Shapiro negou rumores de que cancelará uma turnê por universidades depois de adiar um dos eventos.

— Nós vamos pegar aquele microfone manchado de sangue deixado por Charlie — disse em vídeo. — Jamais vamos parar de debater e discutir.

Withers tem a mesma opinião, apesar de suas novas preocupações com segurança e do choque causado pelo ataque a Kirk.

— Não sei mais o que é razoável, o que não é razoável, lógico ou ilógico — disse. — Mas o que sei é que não posso deixar que o medo dite os rumos de minha vida.



Com informações da fonte
https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2025/09/15/apos-o-assassinato-de-charlie-kirk-criadores-de-conteudo-politico-nao-escondem-preocupacao-com-seguranca.ghtml

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