Programa contra a insegurança alimentar idealizado por carioca é tema de evento na COP30

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Uma única organização brasileira tem o selo de reconhecimento do World Food Programme (WFP), maior agência humanitária das Nações Unidas e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2020, como instituição séria que combate a insegurança alimentar no Brasil: a Fome de Tudo. Ela é liderada pela carioca Úrsula Corona, que nesta quarta-feira (12), durante a COP30, fará um acordo de cooperação da campanha “Fome não tira férias”.
— Infelizmente, mais de 40 milhões de jovens no Brasil têm a merenda escolar como sua principal refeição. No período das férias, que corresponde a 165 dias do ano, eles não têm o que comer. Então, convivem com a insegurança alimentar — diz Úrsula, lembrando o conceito que indica a falta de acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente para uma vida saudável.
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O painel do projeto, que acontece às 16h, em Belém (PA), palco da conferência internacional, contará com a presença do ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias; do ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira; do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Guilherme Boulos; e dos presidentes da Caixa e da Elo.
Úrsula Corona é fundadora da Fome de Tudo, organização que cobrirá a alimentação de estudantes de escolas públicas que não têm o que comer nas férias
Divulgação
O evento com a carioca marcará o lançamento de um cartão destinado a famílias com crianças em escolas públicas cuja renda é de R$ 218 mensais. A ação, que tem como meta atender mil famílias até o próximo ano, é motivada por um relatório da Unicef, que aponta que pessoas atendidas pela rede pública de ensino brasileira ficam sem acesso à alimentação em 165 dias por ano — durante o recesso escolar.
— São famílias com renda inferior a R$ 300. Isso torna inviável que consigam manter todos em segurança alimentar. Esse cartão vai corresponder à alimentação que esses estudantes têm na escola e proporcionar segurança alimentar no período de férias. É tudo feito com transparência e rastreabilidade: o cartão só permite descontos para alimentação — explica a carioca, que passou parte da infância no Morro do Turano, onde ainda mantém amigos, mesmo vivendo atualmente em Portugal.
O Rio é uma das cidades que terão estudantes contemplados pela iniciativa. Manaus também faz parte da ação, anunciada na Glocal Amazônia 2025, evento pré-COP sobre sustentabilidade e meio ambiente realizado três meses atrás no Amazonas.
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Nesta quarta, serão conhecidas mais cidades que integram a lista: Cubatão (SP), Vigia de Nazaré (PA), Jaguaripe (BA), Aracati e Itarema (CE), Recife (PE), regiões precárias de Florianópolis (SC) e Cuité (PB).
A realidade desigual de muitas cidades brasileiras Úrsula conhece bem. A própria vivência — com parte da infância no Turano e outra no Leblon — a fez perceber que podia estabelecer conexões capazes de transformar algumas realidades.
A ascensão financeira em sua vida foi fruto do trabalho como atriz mirim em novelas como “História de Amor”, da Globo, e em campanhas publicitárias. O tino para conectar ideias e pessoas vem de longa data:
— Imagina: comecei a trabalhar com 8 anos na Globo, como atriz mirim. Mas morava no Rio Comprido, onde havia tiroteios constantemente. Vi desigualdades absurdas. Depois, morei na Zona Sul. Com 11 anos, comprei uma linha telefônica e a alugava. Com 13, consegui conquistar uma casa — lembra a empresária, hoje com 43 anos. — O Fome de Tudo vem daí: de não esquecer nossas origens e entender que precisamos construir ferramentas de oportunidade. Ninguém faz nada sozinho.
A carioca Úrsula Corona, natural do Turano, é fundadora da Fome de Tudo, organização que cobrirá a alimentação de estudantes de escolas públicas que não têm o que comer nas férias
Divulgação
A organização conta com 19 pessoas, a maioria brasileiros — muitos deles migrantes que vivem em outras partes do mundo. A equipe do projeto, que também desenvolve ações voltadas à capacitação de jovens, inclui colaboradores de Moçambique e Angola, todos países lusófonos. A própria Úrsula atualmente se divide entre o Brasil e Portugal:
— A gente está espalhado por alguns países, sempre buscando pensar, de forma estruturada, soluções para os problemas. Um desses cases é o de uma espécie de “Tinder da Fome” que criamos. Conectamos o dono de uma rede de supermercados — com 17 lojas — que pagava muito caro para descartar toneladas de alimentos. O gasto era enorme, porque ele precisava contratar um serviço específico de descarte. Além de muito alimento ser desperdiçado, havia um prejuízo de quase R$ 300 mil. Conectamos pessoas que precisavam de cestas básicas a esse empresário, e os alimentos eram de qualidade, claro. No terceiro mês após a implementação da tecnologia, ao evitar o desperdício, ele teve uma economia financeira de 99%. E as pessoas tiveram acesso à alimentação.
As soluções alimentam relatórios da organização, e o controle do que é distribuído gera dados que podem impulsionar outras propostas.
— Assim, conseguimos mensurar quantas refeições foram geradas, qual foi a economia financeira e quantas pessoas foram assistidas — diz Úrsula.
Artista que conhece diferentes cenários da realidade do Rio de Janeiro, ela caminha lado a lado com outros colaboradores de inspirações semelhantes. O próprio nome da organização vem dessas mentes multidisciplinares: Fome de Tudo é também o nome de um álbum da banda Nação Zumbi, que usa a arte para dar visibilidade às urgências do país e traz, em uma de suas letras, os versos: “Sem fastio, com fome de tudo / a única verdade debaixo desse som em carne viva se apresenta / Ninguém quer comer agora pro gosto chegar depois / A fome tem uma saúde de ferro / forte como quem come”.
— A ideia do nome veio do Rafael Matos, que é um grande artista pernambucano e está conosco também. Surgiu quando a gente ainda era só um movimento, uma rede de pessoas pensando juntas em como ajudar quem precisa. Temos um núcleo forte no Nordeste. São problemas do Brasil, não é? Nossos projetos não têm apoio de governos, mas torcemos para que o país tenha projetos que permaneçam. Projetos sociais, claro, mas principalmente políticas públicas, nas esferas municipal, estadual e federal — reforça a carioca.



Com informações da fonte
https://extra.globo.com/um-so-planeta/noticia/2025/11/programa-contra-a-inseguranca-alimentar-idealizado-por-carioca-e-tema-de-evento-na-cop30.ghtml

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